Dentre todas as espécies de peixes cultivadas no Brasil, a tilápia é uma das mais famosas no cenário nacional e também de exportação. 

De acordo com o Anuário Peixe BR 2021, da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), a produção da tilápia atingiu 486.155 toneladas, o que representa um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior.

Além disso, o crescimento da produção é um processo que vem de longos anos, dando um salto enorme na última década. 

Dentre os anos estudados (2005 e 2015), a produção saltou 223%, totalizando mais de 219 mil toneladas anuais neste período. Hoje ela é responsável por 60.6% da participação na produção total de peixes do país.

Essa popularidade se deve a diversos fatores. Ela caiu no gosto dos produtores por sua alta rentabilidade, fácil produção e grande retorno financeiro. Sabemos que ela tem alta capacidade reprodutiva, sendo capaz de se reproduzir até quatro vezes ao ano, exceto no período de inverno. 

O período de início da reprodução também é curto, já que é a partir dos quatro meses de vida e quando chega o momento da eclosão, nascem de oitocentos a mil peixes.

Além disso, a espécie possui grande adaptabilidade e resistência. Ou seja, a tilápia consegue sobreviver em qualquer ambiente, até mesmo em águas cujo o teor de oxigênio seja mínimo. 

Estas características, aliadas ao grande interesse de produção, causaram em determinados momentos, a preocupação de especialistas com relação a sustentabilidade das regiões onde ocorre a piscicultura.

No entanto, recentemente um trabalho publicado no site da revista Science indicou que ela não deve ser considerada uma ameaça. De acordo com os autores do texto, "a tilápia não deve ser considerada ameaça para os peixes nativos, mas uma alternativa socioeconômica para o desenvolvimento do Brasil como país fornecedor de proteínas animais”. 

Eles defendem esta tese no artigo “The way of environmental regularization on Tilapia farmed in neotropical reservoirs in Brazil” (A forma de regularização ambiental da tilápia cultivada em reservatórios neotropicais no Brasil), que foi publicado em 14 de abril de 2021.

Conforme o professor Bruno Olivetti Mattos, autor do texto, “a aquicultura é uma das atividades de produção de alimentos de origem animal mais promissoras do mundo, segundo a FAO/ONU". 

Ele destaca que apesar de sua importância econômica e social, existem pontos de vista divergentes sobre essa realidade. O professor cita o artigo ‘A criação de tilápia ameaça as águas do Brasil’, publicada no site da Science, em janeiro de 2021, onde, para ele, os autores deixam dúvidas sobre o tema e não fica claro porque a produção de tilápia pode ser uma ameaça às águas do país.

Nesse sentido, o professor afirma que "alguns pontos levantados parecem ser mais opinião do que dados científicos que servem de base para tais conclusões". 

Para ele, é necessário utilizar de pesquisa detalhada e que o estudo feito por ele e pelos colaboradores apresenta “de forma concisa e eficaz a realidade que ocorre no país, considerando os resultados observados ao longo dos anos no setor da aquicultura”, destaca.

O artigo também detalha a legislação brasileira relacionada à produção de tilápia e de peixes nativos, onde demonstra a exigência para limites da produção de tilápia tendo, exatamente, o objetivo de preservar as espécies nativas. 

Essas rígidas normas, conforme exposto no artigo, as normas rígidas contribuem para tornar a produção de peixes de cultivo mais ágil no Brasil, assim geram mais empregos, renda e volume de produção, além de desenvolvimento sustentável, inclusão social e segurança alimentar.

Conforme a publicação A forma de regularização ambiental da tilápia cultivada em reservatórios neotropicais no Brasil, produção de peixes exóticos, como a tilápia, ocorre desde 1952 e, nesse sentido, está há 70 anos seguindo regulamentação dos órgãos federais competentes.

O documento destaca que a determinação do IBAMA em 1998 e em 2003 reconhece a presença de espécies exóticas (como a tilápia) em meios ambientes naturais e na infraestrutura de usinas hidrelétricas e lagos das usinas. 

“Somente 1% das áreas dos reservatórios pode ser usada com esse objetivo. Nenhum corpo aquático atingiu até o momento essa capacidade, o que demonstra a necessidade de promover a produção de peixes de cultivo de maneira sustentável”, destaca o texto.

O texto é assinado pelo prof. Bruno Olivetti Mattos, do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, com contribuição do prof. Marcos Ferreira Brabo, da Universidade Federal do Pará.

Também contribuem prof. Eduardo Antônio Sanches e o estudante de PhD Ricácio Luan Marques Gomes, ambos do Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura e Centro de Aquicultura da Universidade de São Paulo e de Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). 

Ele procura também rebater, com argumentos científicos, a e-letter publicada no site da Science em janeiro de 2021, que colocou a tilápia como uma ameaça aos peixes nativos no Brasil. Para acessar a publicação completa, clique aqui.

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