Porque a piscicultura marinha produz apenas espécies carnívoras?
O que podemos observar é que a piscicultura marinha de peixes de corte a nível mundial é basicamente direcionada para espécies carnívoras. Como exemplo temos o salmão, as diversas espécies de linguado e mais recentemente o bijupirá e o atum. Diferentemente, na piscicultura dulcícola o que podemos observar é a grande dominação e expansão da produção de espécies onívoras. Apenas como exemplo as duas principais espécies produzidas na piscicultura brasileira são a tilápia e o tambaqui, que juntas representam 70% da produção nacional.
Mas afinal, porque a piscicultura marinha não investe em espécies de baixo nível trófico? Em termos gerais a larvicultura de peixes marinhos não é realizada de forma extensiva, pois para as espécies carnívoras apresenta baixas taxas de sobrevivência e praticamente sua totalidade de juvenis produzidos é realizado em sistema intensivo, o que vem sendo copiado para as espécies onívoras marinhas. A larvicultura intensiva, além de ser trabalhosa é bastante longa, durando de 30 a 60 dias para a maioria das espécies e possui um elevado custo. Esses custos estão relacionados principalmente com a produção do alimento vivo que é extremamente elevado.
A nível mundial o zooplâncton que é crucial na alimentação das larvas desses peixes está baseado nos rotíferos e nas artêmias, que possuem um custo de produção muito elevado. Esses aspectos supracitados resultam em um juvenil de peixe marinho com elevado custo de produção. Por exemplo, um juvenil de bijupirá vendido no Brasil hoje custa de 3 a 5 reais. Esse valor de juvenil seria impraticável para juvenis de peixes onívoros, que produzidos em sistema intensivo não possuem um valor de mercado muito mais baixo que espécies carnívoras. A grande questão é que espécies carnívoras apresentam um valor de mercado final muito mais elevado que espécies onívoras, assim justificando os custos de investir em um juvenil de elevado valor.
No Brasil, espécies como a tainha Mugil liza e a carapeva Eugerres brasilianus estão sendo estudadas. Além dos entraves que citei previamente, a tainha é uma espécie que apresenta desova total ainda possui elevado custo para sua indução hormonal, enquanto a carapeva possui uma acentuada mortalidade possivelmente atribuída ao diminuto tamanho da larva. A mortalidade na larvicultura da carapeva pode também estar associada a alguma etapa da sua metamorfose, como por exemplo a formação da sua boca que é protusível, ou ainda alguma deficiência nutricional do alimento ofertado. Contudo, saliento que para ambas as espécies as informações disponíveis ainda são muito escassas.
De qualquer forma, essas espécies são promissoras para novos estudos. Para a tainha eu aponto a necessidade de investir em estudos que reduzam os custos com indução hormonal, que são elevados, porém a espécie apresenta boa sobrevivência na larvicultura. E para a larvicultura de ambas as espécies seria importante investir em produção de uma espécie de alimento vivo de menor custo, principalmente em substituição a artêmia (algo que já vem se tentando a algum tempo, mas ainda sem sucesso). Outra possibilidade para redução dos custos seria avaliar larvicultura de forma extensiva para essas espécies, assim como é realizado para algumas espécies de peixes de água doce. De qualquer forma ainda é necessária uma demanda para essas espécies no mercado nacional.
O tema dessa coluna foi sugestão do meu grande amigo Gabriel Passini que em breve defenderá seu doutorado em aquicultura na UFSC, em piscicultura marinha.
Figura © Gabriel Passini
Fonte: Aquaculture Brasil
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