Secretaria de Agricultura e Abastecimento inaugurou, neste mês, laboratório de piscicultura marinha em Ubatuba
As águas marinhas brasileiras são extremamente favoráveis à piscicultura em tanques-rede, porém um dos maiores entraves para o desenvolvimento dessa atividade é a obtenção das formas jovens, como é o caso da garoupa-verdadeira, espécie com viabilidade econômica e potencial de produção. Forma jovem é aquela que acabou de completar a fase de larva e começa a se alimentar de ração.
A produção de formas jovens é uma das finalidades do moderno laboratório de piscicultura marinha que será inaugurado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo nesta quarta-feira, 21 de fevereiro, em Ubatuba.
Local onde esse órgão público mantém o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte, vinculado ao Centro do Pescado Marinho de Santos do Instituto de Pesca.
Na unidade de Ubatuba desenvolvem-se pesquisas sobre reprodução, larvicultura e engorda de várias espécies de peixes marinhos (garoupa-verdadeira, badejo, mero, cioba, ariocó, pampo, olhete e bijupirá). “Muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção, sendo indispensável o desenvolvimento de pesquisas em conservação e preservação desses recursos pesqueiros”, explica o pesquisador Eduardo Gomes Sanches, diretor do Centro do Pescado Marinho.
Segundo Sanches, a primeira espécie estudada foi a garoupa-verdadeira. “As pesquisas possibilitaram importantes avanços no cultivo desse peixe marinho em cativeiro, elucidando relevantes questões do ponto de vista de manejo e dando origem a um banco de reprodutores destinado a pesquisas de inversão sexual, congelamento de sêmen, reprodução induzida e produção de formas jovens, para a realização dos primeiros ensaios de engorda em escala massiva da espécie no Brasil.”
Para o secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, a crioconservação de sêmen de garoupa-verdadeira, uma conquista da pesquisa paulista, é considerada um fato histórico para o desenvolvimento e sustentabilidade da piscicultura marinha em nosso país, tanto pelo valor econômico como pelo potencial de cultivo desse recurso pesqueiro. A pesquisa contribui decisivamente para a reprodução dessa espécie em cativeiro, que propicia a produção das formas jovens.
Desde o início da década de 1980, o Instituto de Pesca desenvolve pesquisas sobre tecnologia de crioconservação de sêmen de diversas espécies de peixes marinhos e de água doce, como: pacu, curimbatá, truta, tainha e robalo, dentre outros. Atualmente, é a única instituição, no Brasil, a manter um banco de sêmen de peixes marinhos, como forma de preservar espécies para as futuras gerações. Mais recentemente, uma parceria entre o Instituto de Pesca, o Projeto Meros do Brasil e a Embrapa Tabuleiros Costeiros possibilitou que os esforços fossem direcionados para outra espécie de peixe marinho, o mero. Esse projeto, financiado pelo Programa Petrobras Ambiental, permitiu a ampliação da capacidade dos tanques de manutenção dos peixes no laboratório de Ubatuba e a aquisição de modernos sistemas de filtragem.
Outra linha de atuação do Laboratório de Piscicultura Marinha tem o apoio de parcerias com a iniciativa privada. A equipe do laboratório realiza, por intermédio da Fundepag e Fundag, a prestação de serviços, como, por exemplo, o desenvolvimento de tecnologias para a cadeia produtiva por meio da demanda de empresas interessadas. Um caso recente é o da empresa Artemia Ltda., que objetiva o desenvolvimento e avaliação de um novo modelo de tanque de cultivo para a produção de formas jovens de bijupirá.
Projetos de pesquisa financiados por importantes agências de financiamento, como a FAPESP e CNPq, também são desenvolvidos no laboratório. Como cita o pesquisador Eduardo Sanches, já foram investidos no laboratório de piscicultura marinha (que ocupa dois prédios do complexo do Núcleo de Pesquisas do Litoral Norte) mais de 1 milhão de reais, oriundos de fundações de apoio à pesquisa, em infraestrutura e equipamentos. Complementarmente, esse Núcleo é utilizado por, aproximadamente, 60 profissionais, em cursos de mestrado e doutorado, o que demonstra sua função também para ensino, pesquisa e extensão.
Por outro lado, muitos maricultores que atuam na atividade já frequentaram cursos e treinamentos desenvolvidos pelo Instituto de Pesca em Ubatuba.
Monitoramento da atividade pesqueira
O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte tem dois eixos de atuação: maricultura e pesca. Na área de pesca, participa do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira Marinha e Estuarina (PMAP) do Instituto de Pesca, coordenado pela Unidade Laboratorial de Referência em Controle Estatístico da Produção Pesqueira Marinha, que incluiu monitoramento também em Santos e Cananeia. Os dados pesqueiros são obtidos por método censitário através de entrevistas voluntárias com mestres de embarcações e pescadores e por consulta a registros de desembarque de pescado em cerca de 200 localidades nos 15 municípios da costa paulista. Segundo Sanches, desde 1944 o governo paulista desenvolve a coleta de dados pesqueiros.
Esses dados são divulgados publicamente de forma consolidada (por ano, mês, município, aparelho de pesca e espécie) no site do Instituto de Pesca e através de informes e anuários pesqueiros, também disponíveis online. Análises específicas, que atendam à política de dados do Programa, podem ser solicitadas diretamente à referida Unidade Laboratorial.
“Em qualquer momento, pescadores e armadores que colaboram com o Instituto de Pesca podem solicitar relatórios de produção da sua atividade pesqueira. Esses relatórios, que trazem informações sobre viagens e capturas realizadas por pescador ou embarcação, servem como comprovante da atividade pesqueira para diferentes finalidades”, conforme orienta Eduardo Sanches.
As principais categorias de pescado descarregado no município de Ubatuba foram: sardinha-verdadeira, corvina, camarão-sete-barbas, camarão-rosa e cação, capturados principalmente com cerco, emalhe, emalhe-de-fundo e arrasto-duplo-pequeno. Considerando a produção desembarcada no período, o município respondeu por 8,6%, do total de 129,6 mil toneladas de pescado, e 6,0% do desembarque no Estado de São Paulo, o que faz de Ubatuba o terceiro município que mais contribuiu para a captura de pescado.
Representatividade social
Paralelamente à função científica, o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte é membro atuante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Pesqueiro da Prefeitura de Ubatuba, da equipe de Gerenciamento Costeiro e do Conselho da APA (Área de Proteção Marinha) do Litoral Norte, dentre outros, dando sustentação à implantação de políticas públicas e ao desenvolvimento sustentável do litoral norte paulista. Em 2017, na equipe de Gerenciamento Costeiro, o Instituto de Pesca defendeu tecnicamente a ampliação da área destinada à aquicultura, dos anteriores 2.000 m2 para 20.000 m2, possibilitando a efetiva implantação de fazendas marinhas e rompendo uma restrição histórica sempre apontada como limitadora da expansão da atividade. De acordo com Eduardo Sanches, estima-se um impacto de mais de 50 empreendimentos aquícolas a serem expandidos com a previsão de 500 empregos diretos e 2.000 indiretos.
Outras informações: Eduardo Gomes Sanches, esanches@pesca.sp.gov.br, fone: (13) 3261-1900
Fonte: Aquaculture Brasil
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